Jovens músicos

Eles são fascinados por música erudita

Rock, pop, eletrônico, axé e funk devem passar por sua playlist todos os dias, mas você já deu um espacinho para o estilo erudito? Beethoven, Mozart, Liszt, Chopin e Bach são gênios da música, apesar de estarem bem longe do dia-a-dia da maioria dos jovens por serem considerados antiquados, sem graça e tediosos. “Quando se é mais jovem, com a personalidade em formação, é normal ficar muito ligado no que acontece ao redor, seja por parte da mídia, com a cultura pop, ou por grupos de amigos”, comenta Lenon Rodrigues, 23, violoncelista desde os doze anos.

Por influência dos pais, os compositores clássicos estiveram presentes na vida de Gabriela Resende, 20 anos, desde a infância. Persistente e apaixonada por música, ela tentou tocar violão, guitarra, bateria, baixo, teclado, harpa e (ufa!) flauta doce, mas foi no canto que ela encontrou o seu lugar. “Comecei ouvindo bandas de black e gothic metal até conhecer o repertório lírico a fundo e deixar para trás a ideia de formar uma banda”, conta. Ela já participou de coros, de um grupo de música medieval, de cantigas de trovador e do baixo barroco, e de cantos gregorianos.

Talento puro às vezes não é o bastante, o que significa que disciplina rígida e muita dedicação são pré-requisitos para quem sonha em se tornar um músico exemplar. Conrado Fernandes, 20 anos, começou tocando trompete na marcha da escola e, depois de cinco anos, passou para a trompa. “Não é nada fácil tirar o som no começo, demorei um mês para conseguir fazer uma escala, além de ter aparecido alguns calos na boca. Se a pessoa não gostar de verdade, desiste. Em instrumentos de sopro, as notas só saem de acordo com o seu desempenho nos estudos”, revela.

Aliás, vontade é o que não falta para Gabriela. Há algum tempo, a garota está se preparando para a faculdade de música, que, além do vestibular de praxe, conta com uma prova prática, de teoria e de percepção, leitura à primeira vista das notas musicais, melodia e ritmo e ainda um repertório de acordo com o que a universidade pede. “O grau de dificuldade varia conforme a instituição, mas o nervosismo atrapalha demais! É uma prova que elimina muitos candidatos”, ressalta. Para alcançar seu sonho, ela tem uma aula de canto por semana, estuda sozinha de três a quatro horas por dia e ensaia com um pianista supervisionado por sua professora.

É comum as pessoas acharem que a música deve ser uma atividade paralela à principal, ou pelo preconceito ou pela crença de que é uma profissão incerta e complicada em relação à área financeira. Esses fatores são menores diante do fascínio e da vontade de construir uma carreira, pelo menos para Conrado. “Eu já ganho dinheiro tocando trompa e quero continuar vivendo disso. Ser músico neste país não é nada fácil, são poucos os que chegam ao sucesso, mas músico militar tem mais estabilidade. É ótimo você aliar a tranquilidade de ser um funcionário público federal e fazer o que gosta”, admite.

Já Lenon pensa diferente e resolveu sair da maioria de seus compromissos, porque deu preferência ao trabalho de desenvolvimento na web e à faculdade de Computação. “Parei com as orquestras, com os grupos de casamento e, por falta de tempo, hoje só toco em trabalhos isolados e em gravações”.

Não pense que só porque esses jovens são apaixonados por música erudita que eles passam a sexta-feira à noite estudando em casa! Conrado adora sair e não dispensa nenhum programa com os amigos e com a namorada. “Ouço tudo! Adoro pagode e MPB, vou a micaretas e a shows. Eu gosto de boa música, não importa o ritmo, mas posso dizer que erudito é meu estilo preferido”.

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