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14/12/2010

Os limites da dor


Até aonde o jovem chega para camuflar esse sentimento?


Você consegue imaginar a dor que sente uma pessoa que perdeu um familiar ou o melhor amigo? Compare com a dor de terminar um namoro, ou de não conseguir o emprego que queria, ou ainda não conseguir ingresso para o show da sua banda preferida. Cada pessoa encara a dor de uma maneira e algumas delas não conseguem lidar nada bem com isso, daí é que entram os limites. Mas como encontrá-los?

Não é fácil saber qual o ponto que transforma sua fuga da dor em algo perigoso e autodestrutivo. Algumas pessoas – muitas vezes até por interpretarem a religião de forma errada – acham que merecem receber punição por seus erros - e acabam comprometendo sua saúde e integridade. “Jovens, principalmente pré-adolescentes, recorrem a essas situações como uma forma de punição, para aliviar angústias, emoções fortes e situações de irrealidade, na qual uma dor maior (física) alivia uma dor menor (psíquica). A dor maior (automutilação) alivia a angústia”, explica o psiquiatra e Coordenador do Departamento de Psiquiatria da Infância e Adolescência da ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria, Lúcio Simões de Lima.

Autopunição
Pode começar com você pensando em como não merece tudo o que tem, daí você não se permite comer um chocolate porque é uma pessoa ruim e daí em diante vai tirando coisas que você gosta porque não as merecem. “Muitos jovens de hoje apresentam um humor instável, baixa tolerância à frustração, impulsividade, introversão, medo do abandono, levando a um Transtorno de Personalidade Borderline”, explica o psiquiatra.

Outra maneira de punição é abusar de todas as coisas, afinal, excessos fazem mal. Beber demais, comer muito e ser promiscuo. Você precisa tomar cuidado, pois algumas vezes, age inconscientemente e se prejudica.

Cortes
Quando a dor é muito forte e chega a ser sentida fisicamente, algumas pessoas acreditam que mudar o foco da dor é algo que pode ajudar. É como aquela velha piadinha de que se a sua cabeça dói, basta outra pessoa quebrar seu braço que ela para.

Muitas pessoas se arranham, se cortam com giletes ou qualquer objeto pontiagudo. Isso pode trazer diversos problemas, deixar cicatrizes e pode até levar à morte. “A possibilidade de um corte inadequado pode trazer consequências sérias, como um sangramento agudo, causando risco de morte. Porém, não estão pensando em suicídio, nem em ideação suicida (ficar imaginando) e sim, em se punir”, complementa o profissional.

De onde vem isso?
Dr. Lucio explica que alguns transtornos psiquiátricos podem levar à Tricotilomania (arrancar pelos), outros a abrir as feridas, morder os lábios e alguns mais severos a se cortar etc. Além disso, na opinião do médico, um dos incentivadores dessas práticas é a internet - “Sites na internet estimulam essa prática, que está aumentando nos jovens “ditos” normais. Veja o uso exagerado de piercings, muitas vezes consiste em se queimar com cigarros, se machucar com alfinetes, lâminas de barbear, chicotear-se, etc”, argumenta.

Como notar?
Essa é uma das coisas mais difíceis de se perceber, afinal, ninguém vai comentar com a família ou com os amigos que está se cortando ou se machucando, se souber que as pessoas são contra essas práticas. Os jovens adeptos dessas práticas confessam isso apenas a quem é igual a eles.

O médico alerta que a família deve estar sempre atenta para modificações no comportamento dos filhos: “O isolamento, o uso de roupas largas e compridas tapando o corpo, problemas como faltas às aulas para esconder as feridas chamam a atenção”. Todos esses elementos podem indicar o problema.

O que fazer?
Mesmo que os adolescentes sejam contra, é necessária a ajuda de um profissional, é aí que entram os psicoterapeutas e os pais devem estar preparados para acompanhar esse tratamento. “Sempre que um adolescente necessita de uma orientação e tratamento, os pais têm que estar presentes”, explica.

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