Cheguei sexta dos primeiros 15 dias de treinamento de TaKeTina. A partir de 2012, até que enfim teremos rodas de TaKeTiNa aqui no Brasil (na verdade, ainda não há nenhum professor em toda a América Latina). Mas já vou começar em setembro agora com práticas semanais gratuitas.
Relatar os detalhes é impossível, então decidi compartilhar cinco olhares pelos quais transitei nesse retiro que me deu a chance de interromper totalmente minha vida cotidiana. Cada perspectiva esconde uma história (fora o casal de professores, havia 22 pessoas comigo), mas o texto ficaria muito longo se eu as contasse. Então fiquem com a versão resumida: 5 sugestões de perspectivas.
Lembro que isso não tem nada a ver com TaKeTiNa. É apenas o que tenho a compartilhar em texto após essa viagem cujo verdadeiro aprendizado se deu em uma área em que palavra é coisa estranha.
Impessoalidade
Fetos e cadáveres: todos nós nascemos iguais e morremos iguais. Por que durante a vida seria diferente?
Conto clássico: um barco bate no seu, você vira, puto, pra reclamar… e percebe que ele está vazio.
Em vez de pensar que as pessoas possuem características, atributos ou essências, note que elas manifestam padrões impessoais que podem ser abandonados a qualquer momento. Dentro de uma pessoa “ciumenta”, não há nenhuma placa de ferro com a marca “ciúme”. O que chamamos de ciúme ou raiva ou orgulho é apenas uma posição da mente e do corpo. Tanto é que duas pessoas ciumentas, por mais diferentes que sejam, acabam agindo de modo similar quando são movidas por essa estrutura.
Todas as emoções negativas e todas as qualidades positivas (como generosidade e equanimidade, por exemplo) são processos impessoais. E nós somos o espaço na qual eles podem surgir, somos a liberdade de transitar entre infinitos modos de ação. É por isso que orgulhar-se por ações positivas ou culpar-se por ações negativas não faz sentido.
Relacionar-se de modo impessoal não resulta em uma postura fria, mas na exploração do verdadeiro contato, ativando a liberdade do outro em vez de reagir aos padrões que ele manifesta.
Confusão
A confusão, o caos é incessante, assim como nosso impulso de resolver e acertar as coisas. Na verdade, é essa incapacidade de parar no meio da merda que perpetua os problemas.
O momento de paz, ordem e harmonia que tanto esperamos nunca chegará. Antes era o fim da semana de provas, mas aí descobrimos que as férias acabam e que surgem novas semanas de provas. Depois veio o fim da faculdade, cujo alívio não durou muito. Agora esperamos por alguma forma de harmonia final e, enquanto isso, vivemos nos finais de semana e tentamos controlar as situações para que se adequem às nossas preferências internas.
Se tentar se afastar dos problemas, sua vida se tornará um inferno. O melhor que podemos fazer é desistir de controlar os fenômenos e lidar diretamente com as experiências todas, do jeito que surgem.
Tsc, tsc… Não adianta se esconder.
Possibilidades
Às vezes lembrar da própria morte, às vezes visualizar nitidamente como era seu cotidiano há 10 anos (como tudo parecia imutável e como você não tinha como imaginar o que viria pela frente), às vezes imaginar futuros improváveis ou às vezes pegar um avião e viajar para bem longe.
Mais do que um distanciamento das configurações atuais, tais práticas aumentam o espaço de possibilidades no qual vivemos. E então surgem perguntas do tipo: “Será que morar aqui nessa rua, nessa cidade, nesse país é uma boa opção? Será que eu continuo o namoro com ela? Será que sigo com esse trabalho?”.
Motivação
Qualquer motivação autocentrada causa inevitavelmente algum tipo de expectativa, frustração e sofrimento. Fazer as coisas para benefício próprio pode dar errado; fazer as coisas para os outros é uma postura inabalável.
Um só processo, uma só prática
Link YouTube | Encarar uma cabra ou salvar o mundo: é tudo a mesma coisa para um guerreiros jedi. ;-)
Em vez de lidar de modo diferente com diversos âmbitos da vida (o seu casamento, seu crescimento no trabalho, sua educação continuada, seus projetos), o melhor é perceber que é tudo um só processo e requer apenas uma prática.
Em vez de 6 motivações, apenas uma. Em vez de 14 papeis, apenas um. Em vez de 25 tipos de problemas, apenas os seus obstáculos internos. Em vez de 10 caminhos, apenas um.
P.S.: Ainda sobre a impessoalidade, termino com o grande físico Erwin Schrödinger, que escreveu umas das coisas mais sublimes que já encontrei (tradução livre da versão em inglês):
“O que é isso que lhe chamou tão repentinamente do nada para desfrutar por um breve tempo um espetáculo que permanece bastante indiferente a você? As condições para sua existência são tão antigas quanto às pedras. Por milhares de anos, os homens se esforçaram, sofreram e procriaram e as mulheres deram à luz em dor.
Cem anos atrás, talvez, outro homem – ou mulher – se sentou neste ponto; como você, ele contemplou, com temor e receio no coração, o morrer das geleiras. Como você, ele foi criado de um homem e nascido de uma mulher. Ele sentia dor e breve alegria, como você sente.
Ele era outra pessoa? Não era ele você mesmo?”
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