Visitar o Pantanal é como entrar num documentário do Discovery Channel. Considerada o maior santuário animal do planeta, essa gigantesca planície semi-salgada, que ocupa boa parte dos Estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, e ainda avança rumo ao territórios da Bolívia e do Paraguai, reserva entre seus campos e veredas o mais autêntico safári fotográfico do Brasil. Tal como nos parques nacionais da África, embora sem leões ou zebras, ir ao Pantanal é ver bichos, muitos bichos. Jacarés, capivaras, veados, quatis, macacos e centenas de espécies de pássaros estão em toda parte, e nem precisa muito esforço para encontrá-los.
O único porém é que não há hotéis dentro do Pantanal. Para conhecer a exuberância desse grande zoológico a céu aberto, a única opção é se hospedar nas fazendas de gado, que não oferecem grandes luxos, mas são muito mais autênticas do que qualquer hotel poderia ser. Muitas adaptaram parte da propriedade em pequenas pousadas, com meia dúzia de quartos, para receber os visitantes, mas sem perder as características de fazenda, traduzido pelo atendimento simpático e pela boa comida caseira preparada no fogão a lenha.
É o caso da Fazenda Mangabal, no coração de uma região do Pantanal Sul conhecida por Nhecolândia, próximo a Campo Grande, ainda pouco explorada pelo turismo, mas repleta de animais. Na Fazenda Mangabal, uma simples caminhada no entorno da sede permite ver uma quantidade absurda de bichos, especialmente a partir de abril, com o final da época de chuvas, quando a água começa a baixar nos alagados e o Pantanal entra em sua melhor época para visitação. Os animais podem ser vistos com muito mais facilidade, pois ficam concentrados nas poucas lagoas que resistem.
Os passeios na Fazenda Mangabal são feitos a pé, a cavalo ou a bordo de jipões com bancos na carroceria, tal como nos safáris africanos. Um guia experiente, o Jura, sempre acompanha o grupo de turistas ávidos pelos flagrantes com os animais, que acontecem a todo instante. Alguns safáris são feitos à noite, com potentes holofotes, para observar a fauna de hábitos noturnos. Em julho, os hóspedes ganham também a companhia do fotógrafo de natureza Bruno Sellmer (diretor da conceituada escola de fotografia Techimage, em São Paulo) que, além ajudar na “caçada fotográfica”, ensina como se aproximar dos bichos sem espantá-los. Há pacotes específicos nesse período para quem pretende aprimorar conhecimentos em fotografia de natureza.
O maior problema é chegar lá. Como a Fazenda Mangabal fica praticamente no meio do Pantanal, o deslocamento é longo e demorado. Desde Campo Grande são cerca de 280 quilômetros, metade em veículo com tração nas quatro rodas. Mas à medida que o jipe avança, as revoadas de pássaros e os primeiros jacarés à margem da rodovia já dão uma boa amostra do que vem pela frente. Quem encara a distância da viagem ganha como recompensa o prazer de desfrutar uma das regiões mais intocadas do Pantanal, com dias de estreitíssima ligação com a natureza.
No próprio quintal na pousada, emas passeiam soltas como se fossem de estimação e, por vezes, alguma até rouba meias do varal. Uma coruja-buraqueira escolheu um galho de árvore bem à porta, assim como o casal de periquitos que vem pousar no ombro da Ana Dolores, a cozinheira, para beliscar as frutas que ela oferece. O pica-pau de cabeça amarela gosta de cutucar o batente da janela, que já está todo marcado. Sem falar no brejo logo em frente, onde as capivaras passam horas tomando sol.
A localização é o ponto forte da Fazenda Mangabal. A pousada, por sua vez, é bem modesta em comparação a de outras fazendas pantaneiras. Mesmo assim, não chega a decepcionar os poucos visitantes. Os quartos – são apenas quatro – têm conforto espartano. Nada de cama box, televisão ou telefone. Mas são limpos, equipados com ventilador e ar-condicionado, piso de cimento queimado e cortininhas de chita nas janelas.
A pousada funciona com energia de gerador a diesel, além de um sistema à base de gerador solar de reserva. Às dez da noite, o gerador é desligado e as luzes se apagam. Resta então o bate-papo – e é impressionante como rola uma interação fácil e natural entre os hóspedes – ou a leitura de cabeceira à luz de velas antes de o sono chegar. Não é exatamente um tipo de viagem para quem busca mordomias e horas de preguiça à beira da piscina. O que vale por lá é admirar a beleza do Pantanal e incrementar o arquivo pessoal de fotografias com belas imagens.
Um típico dia na fazenda Mangabal
Começa antes mesmo de o sol nascer. Por volta das cinco da manhã é a primeira saída do dia, a pé mesmo, pelos arredores da fazenda, para contemplar o amanhecer anunciado por uma indescritível algazarra de pássaros. O café da manhã é servido no retorno e, logo depois, por volta das 10h, o grupo sai novamente de caminhão para o primeiro safári fotográfico do dia.
À tardinha, depois de um cochilo na rede, há outro passeio, que pode ser feito novamente no caminhão ou a cavalo, em meio aos campos encharcados.
Quando ir
De abril a setembro, época da seca, os animais podem ser vistos com mais facilidade nas lagoas. No período de chuvas, porém, entre novembro e março, o aguaceiro toma conta de tudo. A Fazenda Mangabal chega a ficar ilhada e para chegar até a sede só a bordo de canoa. Os caminhos alagados impedem a passagem do caminhão e o melhor a fazer é esperar a água baixar.
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