Páginas

17/09/2009

Quando meu pai perdeu o emprego


Abrir mão de certas mordomias, mudar de colégio e não poder mais sair com os amigos são algumas mudanças que podem ocorrer caso seu pai perca o emprego. Veja o relato de quem já passou por isso, mas conseguiu dar a volta por cima


Quando o estudante de Medicina Cássio Carvalho, 21 anos, estava iniciando sua adolescência, sua família tinha três automóveis - “bons carros”, segundo o universitário -, saía frequentemente e mantinham padrão de vida “muito bom” com o salário que seu pai recebia por trabalhar como gerente de um banco no qual estava há 20 anos somado ao de sua mãe, que exercia a função de caixa na mesma instituição financeira. Não havia motivo, portanto, para o rapaz se preocupar com o futuro. Mas ao completar 14 anos...

“Aquele cargo era muito estressante. Não estava fazendo bem para ele, então entrou em um programa de demissão voluntária e saiu”, lembra. De acordo com o jovem, seu pai tentou abrir um escritório de contabilidade na cidade de Belo Horizonte (MG), onde viviam, durante um ano, mas não obteve sucesso. Resolveu então arriscar com a empreitada em cidades vizinhas. “Para isso ele tinha que viajar bastante, mas foi dinheiro jogado fora. Ele gastou tudo o que tinha ganhado de indenização do banco”, relata.

Neste período, quem mantinha a casa era a mãe do rapaz. “Só que o dinheiro foi acabando, então tivemos que cortar despesas”, diz. Uma das primeiras áreas que registraram corte no orçamento foi a de lazer. “Eu fiquei meses sem sair”, afirma. Durante esse período, aliás, o jovem conta que frequentemente inventava desculpas como motivo para não poder se juntar aos programas dos amigos. “Os mais próximos sabiam. Eu era adolescente, então me sentia diminuído perante os outros”, se defende.

Mas o tempo continuava passando e, com ele, as economias iam embora. Por conta disso, Cássio e seu irmão quase tiveram que sair do colégio particular no qual estudavam. “Meu pai pegou um empréstimo para pagar matrícula e tudo mais”, recorda. Vendo sua vida mudar completamente, o rapaz se propôs a ajudar de alguma maneira. Pensou em procurar alguma ocupação remunerada. Seu pai, no entanto, não aceitou. “Ele é bastante orgulhoso, então dizia que a responsabilidade de colocar dinheiro na casa é dos pais. Sempre prezaram pelos nossos estudos”, explica. Tanto é que, apesar de toda as dificuldades, seus parentes nunca aceitaram qualquer piora no rendimento escolar. “Às vezes, ficava difícil concentrar, mas aí eu lembrava do esforço que estavam fazendo e eu dava meu máximo por eles”, desabafa o estudante.

Sem saída, venderam dois dos automóveis e trocaram o terceiro por um modelo mais popular, ficando com a diferença de valor. É natural que o ambiente na casa tenha começado a se deteriorar. “Nós brigávamos com certa frequência porque todos estavam estressados”, lembra. “Foram seis anos nessa situação, rezando para ver se a grana pagaria as contas”.

Virada
Desde que sua empreitada com o escritório de contabilidade falhou, o pai de Cássio começou a estudar para prova de concurso público. Até o dia em que passou. Mas com um detalhe: a vaga pretendida era em outro Estado. Com suas crias já encaminhadas em faculdades públicas, decidiu se mudar para lá com sua mulher. Graças ao novo emprego, de cerca de ano para cá a família já vive como antes.

E a relação entre todos? Segundo Cássio, está melhor do que nunca. Mesmo tendo sido privado de certos privilégios que ele imaginou que fosse ter durante sua adolescência, o rapaz afirma nunca ter culpado seus pais por isso. Pelo contrário. “Acredito que minha admiração por eles aumentou bastante porque, mesmo numa situação como essa, eles ficaram juntos”, diz. “Demorou, foi difícil... Mas aprendi a sempre acreditar em um objetivo, porque meu pai conseguiu chegar onde queria”, conclui. Lição aprendida?









Nenhum comentário: