Embalado pelo hit I Kissed a Girl, da cantora norte-americana Katy Perry, um novo grupo denominado ‘heteroflexíveis’ cresce cada vez mais na noite paulistana. Em sua música, Katy, que é heterossexual e tem um namorado, diz ter beijado uma menina e ter gostado muito da experiência. Inspirados pela música da artista ou não, o fato é que os integrantes desta nova tribo se caracterizam por terem como opção a heterossexualidade flexível: casos sérios só com pessoas do sexo oposto, mas para experimentar e viver novas emoções, vale a pena beijar e trocar carícias com alguém que, em teoria, deveria gostar do mesmo fruto.
Embora o nome “heteroflexíveis” ainda não tenha caído na boca do povão, em breve, ele deve se tornar tão conhecido quanto outras classificações já consagradas como ‘comunidade GLS’, ‘bissexualismo’, entre outros. É o que garante o estudante Lucas Sistolli, de 21 anos, adepto do novo grupo. “As pessoas que têm opções diferentes das demais acabam, infelizmente, sendo rotuladas mesmo. Mas se aproveitar a vida e fazer valer a minha vontade é ser um heteroflexível, que se perpetue o termo então”, comenta o estudante, dizendo que o nome ainda é muito confundido com o bissexualismo. “Mas para mim, não é a mesma coisa, não”, completa.
Para a publicitária Beatriz Trocolli, de 26 anos, existe uma diferença principal que distingue a heteroflexibilidade do bissexualismo. “Para o heteroflexível é algo somente físico, aquela coisa ‘de pele’ mesmo, sem envolvimento emocional e de curta duração. Não acredito que me apaixonaria ou até mesmo namoraria uma pessoa do mesmo sexo”, explica Beatriz, que classificou uma pessoa heteroflexível como “alguém que tem sua opção sexual bem definida pelo sexo oposto, mas que eventualmente se atrai por pessoas do mesmo sexo”.
Embora haja distinção entre os termos, existem certas semelhanças entre bissexuais e heteroflexíveis: ambos freqüentam os mesmos lugares, além de sofrerem os mesmos tipos de preconceito. “Heteroflexíveis e bissexuais vão aos mesmos lugares por um simples motivo: se eu ficar com uma garota em um local hétero, um monte de gente vai ficar em volta comentando e não é essa a proposta, pois estarei com ela pelo interesse que ela me despertou e não para provocar quem está em volta”, comenta Beatriz, recebendo coro do estudante Lucas Sistolli. “Sempre ouço que sou ‘indeciso’, ‘total-flex’(em referência aos carros movidos a álcool e gasolina), essas coisas desse tipo. Na verdade, não sou nada, tenho meus desejos e pronto, gosto de sair e ficar à vontade”, reitera.
A questão dos rótulos parece ser realmente o ponto polêmico do tema heteroflexibilidade. De dentro do grupo, Lucas e Beatriz compartilham da opinião de que os heteroflexíveis não são uma nova tribo urbana. Enquanto o estudante prefere dizer que “são pessoas normais que se desejam e isso não é passível de caracterização porque todos ser humano tem suas preferências”, Beatriz faz a linha mais comedida. “Não saio por aí olhando todos a minha volta e procurando alguém. É algo que, eventualmente, pode acontecer. E pelo menos comigo, nunca tive de tomar a iniciativa”, completa a publicitária, certa de suas opções. “Sou heterossexual mesmo”, finaliza.
Segundo a psicóloga Thais Arruda, os jovens aproveitam a aparente sensação de liberdade dos dias atuais para experimentar novas sensações. “Entretanto, a discriminação e o preconceito ainda permanecem camuflados na sociedade, que cada vez mais produz esses rótulos, como heteroflexíveis, para identificar esses comportamentos diferentes. Independente do rótulo, esses grupos se unem na diferença e preferem freqüentar os mesmo lugares para se protegerem da discriminação”, explica a psicóloga, que encerra deixando uma dica. “O importante, seja homossexual, heterossexual, bissexual ou agora heteroflexíveis, é se conhecer e principalmente se aceitar sendo o que é”, conclui.
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