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13/10/2008

Gravidez na adolescência não é só drama de novela





Recentemente, na novela A Favorita, Mariana, personagem de Clarice Falcão, descobriu uma gravidez inesperada em plena adolescência e deixou desesperada sua mãe Catarina, vivida por Lilia Cabral. Os noveleiros de plantão sabem muito bem: o assunto não é novidade nos roteiros, mas sempre ganha pontos no ibope.





Afinal, não é só na ficção que as famílias passam por esse drama. Que o diga Sarah Palin, governadora do Alasca e candidata à vice-presidente dos Estados Unidos, ao lado do republicano John McCain. Com ideais conservadores e de uma família evangélica que prega a abstinência sexual, Sarah descobriu recentemente que sua filha, Bristol, de 17 anos, está grávida.Os números mostram friamente uma realidade vivida por famílias de todas as classes sociais. A proporção de nascimentos de filhos de mães menores de 20 anos no Brasil caiu de 20,8%, em 2003, para 20,6%, em 2004, segundo a pesquisa Estatísticas do Registro Civil, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no ano passado. Este é o menor percentual desde 1997, quando a proporção havia sido de 20,4%.Aumentando a escala da pesquisa para um prazo de 10 anos, porém, verifica-se uma elevação no número de gravidez na adolescência. Entre 1994 e 2004, os percentuais cresceram mais nas regiões Nordeste (18,4% para 23,9%), Norte (20,8% para 25,4%), Sul (17,8% para 19,1%) e Sudeste (17,0% para 17,7%) e caiu apenas na região Centro-Oeste (22,7% para 22,1%).Em plena era da Internet e da comunicação instantânea, não se pode creditar esse aumento da gravidez indesejada simplesmente à falta de informação. Segundo o obstetra Antônio Júlio Barbosa, do Hospital Santa Catarina, são vários os fatores envolvidos. "A permissividade dos pais e o típico pensamento mágico adolescente 'isso nunca vai acontecer comigo', por exemplo, contribuem muito para a ocorrência de casos, independentemente do ambiente familiar, da cultura e da classe socioeconômica", explica Barbosa.Gravidez de riscoPara os pais de filhos adolescentes que pensam em ser mais autoritários e fazer os jovens acordarem de vez para a vida, vale um alerta dos especialistas. O caminho para prevenir a gravidez indesejada ainda é o diálogo e o investimento na educação. A saída não é apenas repreender, mas apontar para os jovens todos os riscos associados - desde a relação sem preservativos até as complicações durante a gestação. "É preciso alertar sobre as chances de se contrair uma doença sexualmente transmissível", diz Yong Joo, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade São Camilo.Muitas grávidas até escondem a barriga da família durante meses, por exemplo, ficando desprotegidas sem as avaliações e exames obrigatórios durante o período pré-natal. "Mães prematuras costumam ter um comprometimento menor com seus bebês", garante o obstetra Antônio Julio Barbosa. Além disso, ainda de acordo com o médico Hospital Santa Catarina, o corpo feminino só está maduro para uma gravidez a partir dos 18 anos.Maturidade antecipada"Uma gravidez na adolescência está sempre atrelada a problemas emocionais: uma garota sem a companhia do parceiro ou sem o apoio da família", explica o médico Antônio Julio.Com o bebê no colo, não tem jeito, as responsabilidades irão brotar e nessa fase uma grande mudança ocorre no comportamento da jovem família. "A transição para a vida adulta ocorre muita mais rapidamente. E depois vem a sensação de não ter aproveitado tudo o que poderia na adolescência", relata Talita Biason, hebiatra (a profissional especialista em adolescentes) do Hospital Santa Catarina.De acordo com a médica Talita, a maioria dos pais adolescentes abandona os estudos - mesmo que temporariamente - e tende a se inserir no mercado de trabalho mais cedo. "Há estudos, principalmente norte-americanos, que dizem que pais adolescentes ganham menos que outros profissionais. E, a longo prazo, tem um perda maior da renda", diz a hebiatra. "Isso é um reflexo da falta de preparo, provocada pelo abandono da escola", completa.Talita concorda que dificilmente uma pessoa com menos de 18 anos irá pensar nessas conseqüências. No entanto, é necessário que pais e professores alertem para as mudanças provocada por uma gravidez antes que ela aconteça. "É preciso ajudar o jovem a planejar melhor sua vida", reitera.Força-tarefaTodos sabem que o nascimento de um bebê acarreta, entre outras coisas, um custo financeiro que não é dos menores. Mesmo que o jovem pai ou a mãe decida trabalhar, dificilmente o salário será suficiente para sustentar uma família. É nesse momento que entram em cena os avós."Os avós devem ajudar nos cuidados práticos, no suporte emocional e até mesmo financeiramente. Mas é preciso ter o cuidado para não assumirem a tarefa de pais. A responsabilidade é dos adolescentes: são eles que devem aprender a trocar as fraldas, a levar o bebê ao pediatra, e assim por diante", alerta Talita. Dessa forma, os pais adolescentes se comprometem mais com o filho e melhoram a relação familiar.

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