Humor

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O Ônibus Executivo
Maurício MeirellesUltimamente eu tenho escrito textos sobre percepções de leitores. Às vezes o fulano está andando num boteco em Havana e não entende por que o policial sacou a arma depois dele ter pedido uma CUBA LIBRE. Daí ele manda um e-mail para: Coluna do Carioca e a gente tenta fazer disso um texto engraçado. Simples, né?Só que dessa vez quem resultou o texto foi o próprio cidadão aqui, depois de idas e vindas pelos nossos estressantes ônibus rodoviários. Como poucos sabem, tenho feito alguns shows de Stand Up e como o dinheiro muitas vezes é curto, dá-lhe ônibus até o Rio de Janeiro. Lá fui eu para mais um show e para a decisão mais complicada da minha semana: Ônibus EXECUTIVO ou Ônibus LEITO? Sim, da semana. Porque dependendo dela, ou eu fico sem dormir a semana inteira ou eu fico sem dinheiro a semana inteira. Explico: as diferenças entre leito e executivo são duas. Uma é no bolso e a variação chega a ser de quase 45 reais dependendo do caso. A outra é nas costas e a variação é geralmente de 15 graus de inclinação. Ah, vá! Como assim? 45 reais a mais para eu tentar dormir um pouquinho mais inclinado? Se é essa única diferença, ‘simbora’ no Executivo. Seria simples assim, mas essa não é a única diferença. Infelizmente. Se no leito eles prometem de tudo para fazer você dormir. No executivo eles te oferecem exatamente o inverso. É luz acesa o tempo todo, ar condicionado na cara de sacanagem, TV ligada com som no máximo. Aquela porcaria ali não é Ônibus Executivo, é ônibus Workaholic. Não tem como você dormir, relaxar, descansar. É pressão o tempo todo. Tá com sede? Esquece água. O que tem é café pra te deixar ligadão. O desespero é tanto que quando me entregaram jornal no começo da viagem, já pensei que iam anunciar: Esse daí é seu banheiro. Aliás, caros motoristas de ônibus. Por que os senhores cismam em passar os piores filmes nas TVs? Juro que prefiro não ver TV a ter que assistir pela nona vez o “O Pestinha 2”. O que mais me irrita é que é em DVD. Ou seja, a companhia gastou por isso. Podiam muito bem ter ido a qualquer banca de jornal e comprado por R$ 9,90 qualquer filminho de sucesso, pré-lançamento, sei lá. Mas não, insistem em filmes em que a protagonista era a Dercy na época do colegial. O quesito para escolha dos filmes é simples. Bastam duas coisas: ele já ter passado umas 18 vezes na TV Tupi e conter bastante ação e barulho, porque caso contrário, o passageiro conseguiria dormir. Aliás, caros motoristas de ônibus. Mais uma pergunta: por que colocar o filme dublado? Não basta ser ruim, tem que ser dublado! Nada contra isso, mas a questão é que sendo dublado acontecem dois problemas:1- Mesmo que você tente prestar atenção no filme, fica impossível ouvir tudo, já que o som do motor do ônibus é a trilha sonora do momento. 2- Graças a isso, o motorista tenta aumentar ao máximo o som da TV, assustando pessoas que não imaginavam ouvir explosões durante um cochilo. Moral da história: temos uma TV com o pior filme do mundo, na qual você não consegue ouvir uma fala, porém escuta todas as explosões e tiros quando está prestes a dormir. Impossível ficar pior? Não creio!Outra coisa é no quesito proximidade dos ônibus rodoviários. Aliás, antes de casar recomendo que você, noivo, e você, noiva, encarem uma viagem São Paulo-Acre. Isso sim é prova de fogo. Dividir escova de dente, cobertor e contas é fichinha perto de ter que dividir um encosto de braço durante mais de 20 horas. Se no término do processo, vocês continuarem juntos, case! Por que eles fazem um encosto tão fino? Se na simulação dos noivos já gera problema, imagina quando você não conhece a pessoa ao seu lado? O que fazer? Ganha quem pega o encosto primeiro? Se essa regra for aplicada, daqui a pouco imagino pessoas chegando mais cedo ao embarque, esperando o ônibus acampadas. Tudo para garantir seu encosto. Se bem que existem algumas táticas fundamentais de guerrilha para você garantir o seu encosto de braço. A que eu mais gosto é a “Tirou, perdeu”. Uma vez que você coloca o braço primeiro, o encosto é seu. Mas descuidou, o outro leva e está no direito dele. Aí a briga fica bacana. Tudo é válido: provocar coceira no adversário, forçar levemente seu cotovelo, derramar café no colo e derrubar coisas alheias são uma das técnicas que utilizo. A mais eficaz ainda é dormir e “sem querer” deixar seu braço invadir o encosto. Mas ela é ineficiente, uma vez que nada no ônibus contribui para você dormir. No fundo acho que eles fazem tudo isso para você ter uma percepção. - Nossa, no leito eu paguei 45 reais a mais e dormi melhor que no Executivo. E você, já passou por um apuro parecido? Comente!