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10/04/2008

Insônia no giro da lua

Ola galera da insônia hoje eu vou contar uma lenda muito interessante
é sobre a lua.

Essa lemda foi retirada do site : http://www.rosanevolpatto.trd.br/lendalua.htm

A LUA
A gente de Jaci procurou matar a cutia. Um índio fugiu e um outro, para amansá-lo, deu-lhe muitas flechas. Ele ficou muito contente, recebeu as flechas e pendurou-as. Depois disse ao outro:
- Vamos até minha casa, minha mulher terá muito prazer em vê-lo.
Ouvindo aquilo, o amigo juntou as flechas, botou na cabeça o chapéu de rabo de japu e ambos partiram. No mato, ele foi comendo frutos e seus dentes enegreceram. Ao chegar à casa, parou com vergonha de entrar. O amigo perguntou:
- Por que motivo está parado?
- Estou com vergonha de sua mulher.
Então o visitante penteou-se, alisou os compridos cabelos, botou as braçadeiras, enfeitou-se e julgou-se pronto para a visita.
Entrando na casa o dono armou a rede grande e pintada e na mesma se sentaram. Depois falou à mulher:
-Convidei-o a vir até aqui. Dê-lhe comida à farta. Que ele encha a barriga, que morra de tanto comer!
A mulher disse que sim e trouxe um alguidar muito grande, com mingau. O visitante, mesmo deitado, o comeu todo. Depois trouxe macaxeiras cozidas, bananas cozidas, bananas assadas, bananas cruas, amendoim torrado, bolo de amendoim, jerimum cozido, carás cozidos, inhames cozidos, pipocas, pamonhas. Arrumou estas comidas diante da rede. Ele comeu um bocado de cada piféu e embrulhou alguma coisa, a fim de levar para sua casa e lá comer. Despediu-se e partiu na frente. O amigo pegou no facão grande, muito afiado e nas flechas e seguiu-o.
O visitante perguntou-lhe;
- Para que leva você esse facão?
- Na volta, quero cortar um belo pau que vi no caminho.
- Para que?
- Vou fazer uma enxada e preciso de um cabo.
Em caminho o amigo tirou o facão e com um golpe decepou-lhe a cabeça. A cabeça caiu ao chão, mas o corpo ficou de pé, a tremer, a tremer...
O assassino deu-lhe bordoadas, até o corpo cair. Depois, encarou a cabeça decepada. As pálpebras continuavam batendo. Vendo isso, cortou um pau, aguçou-o, espetou a cabeça e foi fincar o pau no meio do caminho. Depois de decapitar o companheiro, escondeu-se, pois esperava que os homens da tribo saíssem à sua procura.
Um caçador que veio para aquelas bandas, encontrou a cabeça no alto do pau, com os cabelos compridos voando ao vento, Pensou que fosse o diabo. Obedecendo ao primeiro impulso, correu, mas depois voltou, perguntou a si mesmo:
- Que será que eu vou ver?
Lá estava a cabeça espetada no poste. Encarou-a e viu que não estava morta, pois tinha os olhos brilhantes e as pálpebras batiam. A boca abria-se. Então resolveu contar a sua gente. Olhou mais uma vez a cabeça e viu que ela chorava e as suas lágrimas caíam ao chão.
Correu para a aldeia e lá chegando, anunciou- Não sei quem decapitou nosso irmão. Depois, cortou um pau, espetou a cabeça e plantou-a no meio do caminho!
Contando tudo isso, os homens gritaram:
-Vamos buscar! Vamos buscar!
Tomaram o caminho e partiram gritando. Quando ouviu a gritaria que se aproximava, o assassino trepou o mais alto que pode em um frondoso pau-mulato. Não podendo subir mais ainda, escondeu-se no meio da folhagem.
O caçador que encontrara a cabeça chegou na frente do bando e mostrou-a aos que vinham atrás. Ela ainda não tinha morrido, seus olhos continuavam brilhantes e piscavam, suas lágrimas rolavam e caíam no chão. A boca abria e fechava, mas não conseguia falar.
Os homens pegaram a cabeça, colocaram-na no cesto e tocaram para aldeia, dando gritos. Mas dali a pouco ela arrombou o cesto e rolou no chão. Pararam, meteram-na no cesto e prosseguiram mas, depois de um estirão, a sinistra carga rolou de novo por terra.
Dois do grupo acharam melhor voltar e enterrar o corpo, que continuava insepulto.
Um grupo falou:
-Minha gente, esta cabeça não quer mesmo ir para a aldeia! Deve estar enfeitiçada.
Atiraram-na para o lado e seguiram o caminho. Mas a cabeça, rolando pelo chão, acompanhou-os. Lá longe alguém gritou:
- A cabeça vem correndo atrás da gente!
A cabeça veio rolou o barranco, saiu nadando e alcançou o outro lado. A gente que tinha trepado no bacuparizeiro a espiava com medo.
- Descei depressa que eu já vos vi! disse ela.
Quando chegou perto gritou:
- Minha gente,, dai-me bacuparis!
Um colheu frutas verdes e atirou-as, mas a cabeça não comeu, exigindo:
- Dai-me bacuparis maduros!
Atiraram-lhe bacuparis maduros; ela conseguiu abocanhá-los mas os frutos iam saindo pelo pescoço atorado.
E ela pedia mais, muito mais. Então, passaram a atirar bacuparis bem longe, o mais longe que podiam. Ela foi juntá-los, sempre rolando pelo chão. Vendo-a distante, os homens despencaram da árvore e fugiram. Perto da aldeia, um deles perguntou:
- Será que a cabeça vem atrás de nós?
O assassino viu que eles tinham partido, desceu do pau-mulato e foi para sua casa. Nem reparou que a cabeça ia rolando na trilha dos fugitivos. De repente, um deles viu que ela se aproximava e gritou. Todos correram de cambulhada.
- Minha gente, esperai-me! Bradava ela.
Mas a gente, que não era boba, não a esperou. Chegando a suas casas, meteram-se dentro e fecharam as portas. Ela do terreiro, gritava;
- Abri as portas que eu quero entrar!
Eles porém, não abriram. Ela, no terreiro, continuava a chorar e nos cabelos compridos enxugava as lágrimas. Suplicava:
- Quero tirar minhas coisas aí de dentro!
Então ela ameaçou:
- Vou enfeitiçá-los. Meu sangue, meus olhos, minha cabeça podem enfeitiçar! Vou caminhar pelo arco-íris. Serei legumes para comerdes, ou bananas, ou macaxeiras, ou carás, ou batatas, ou feijão, tudo isso para comerdes. Serei terra e vós podereis andar sobre mim, serei timbó para arrancardes, diluirdes no rio e juntardes o pescado, serei caça para matardes e depois me comerdes. Eu serei cobra, me zangarei e vos picarei e vós poderei matar-me. Eu serei lacraia e vos morderei. Eu serei árvore e me derrubareis, me secareis para lenha, me rachareis e com ela podereis cozinhar a comida que comeis. Serei morcego, virei da escuridão e vos morderei. Serei o sol, vos aquecerei do frio. Serei a chuva, cairei do céu, encherei os rios, propiciarei pescarias e vos darei peixes. Molharei o capim, o capim crescerá, as caças virão pastar-me. Serei a noite e escurecerei tudo, para que possais dormir. Eu serei a manhã para, depois de dormirdes no escuro, acordardes para as lidas do dia. Que serei eu, porventura? Meu sangue em caminho dos inimigos mudei: é o arco-íris. Mas meus olhos em estrela transformarei. Minha cabeça vai ser a lua.
-Minha gente, continuou, esta cabeça vai ser Lua, meus olhos as estrelas, meu sangue o arco-íris. Quando eu surgir, estas mulheres e estas mocinhas sangrarão.
Elas ouviram aquilo e ficaram assustadas.
- Por que motivo nós devemos sangrar também?
A cabeça respondeu:
- Por que é meu desejo. Eu serei Lua Nova e vós sangrareis.
Então, um tirou o seu sangue, despejou em um prato e o sangue se derramou, escorreu, e o arco-íris surgiu. Arrancou-lhe os olhos e atirou-os para cima e eles se transformaram em estrelas. O urubu-celeste veio voando, apanhou seus cabelos com o bico e arrebatou-a para o céu.
-Agora, minha gente, vou ser Lua. Não esqueçam, quando eu for Lua Nova e estiverdes deitados, todas as vossas mulheres sangrarão.
A aldeia toda quis ver a cabeça. Os habitantes abriram as casas, correram para o terreiro, olharam a cabeça pendurada pelos cabelos, que ia para as nuvens. E viram o arco-íris arqueando-se no céu. Escureceu. A cabeça deitada era Lua Nova. Os olhos eram estrelas brilhantes. As mulheres sangraram, os maridos se aproximaram e elas ficaram grávidas.
TUDO FEITIÇO!

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